quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Foliões em fúria!

Mais um Carnaval se passou, escolas de samba desfilaram em todo o Brasil, como sempre as do Rio de Janeiro e São Paulo em grande estilo. Homenagens foram feitas a Jorge Amado, Cândido Portinari e Joãosinho Trinta, que vale apena enfatizar, foi um grande carnavalesco! Morreu no ano passado e teve a irreverência e ousadia de destacar no carnaval de 1989 o tema “Cristo Mendigo”. A imagem desfilou coberta por sacos pretos com a faixa “Mesmo proibido, olhai por nós” e várias pessoas fantasiadas de mendigo acompanhavam o carro alegórico. Na época, gerou uma grande e boa polêmica!

Eu mesma não sou tão ligada neste evento, mas gosto de ver os temas das escolas para perceber melhor o que está acontecendo com o nosso carnaval a cada ano que passa.

Escrevo este artigo em uma quarta-feira, literalmente, de cinzas. Estava vendo pela televisão a apuração dos votos das escolas de samba de São Paulo no Sambódromo, quando de repente, ao vivo e em cores, um homem invadiu a área restrita dos jurados e rasgou os envelopes que continham as notas. Parecia surreal, mas era verdade. Criou-se um tumulto enorme, policiais entraram em cena, cadeiras foram arremessadas para todos os cantos e, em seguida, ainda houve um incêndio em um dos barracões que guardavam alguns dos carros alegóricos.

Fiquei pasma e ao mesmo tempo super ligada na TV, tentando entender o que aconteceu! Pior ainda, quando entendi! Era uma briga pelas notas finais que estavam sendo dadas às escolas. Me lembrei daquelas coisas do ginásio ou do primário, quando um bando de alunos mal educados se rebelava contra um outro grupo da classe, após terem participado de uma gincana ou algo parecido, por não terem gostado da classificação final.

Mas como estes foliões não são crianças e o Carnaval não é uma gincana escolar, concluo que nós adultos, se é que podemos nos denominar assim, não servimos mais de exemplo algum para nossos filhos e nem para nós mesmos.

PS. Valeu, Joãosinho Trinta, você foi um visionário!

Publicado em 23/02/2012, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

“Mais de mil palhaços no salão”

Na semana passada, os PMs da Bahia e do Rio de Janeiro entraram em greve. Dezenas de pessoas morreram neste período, houve vandalismo no comércio, pessoas feridas nas ruas, cogitou-se até o cancelamento do Carnaval nestas regiões. Logo depois, não entendo bem como, parece que tudo se ajeitou...

Não posso deixar de citar, também, o recente aumento de matérias na mídia sobre corrupções, desvios de dinheiro de órgãos governamentais, trocas de ministros, pessoas que ficaram desabrigadas pelas enchentes e que continuam, há meses, “provisoriamente” em alojamentos.

Agora que estamos finalmente a alguns dias do Carnaval, um dos eventos mais esperados pelos brasileiros durante o ano inteiro, me lembrei das lindas marchinhas que tocavam nos anos 60, entre elas uma que cai muito bem para os tempos de hoje, Máscara Negra, interpretada pela magistral Dalva de Oliveira, quando ela canta “Mais de mil palhaços no salão”...

As origens do Carnaval são polêmicas. Li uma pesquisa que cita o surgimento desta data como uma festa que já existia dez mil anos antes de Cristo, quando os povos que habitavam as margens do rio Nilo, no Egito, comemoravam suas colheitas.

Os homens daquela época entravam em estado de utopia através da comemoração. No momento da festa, se desligavam das coisas ruins e saudavam as que lhes pareciam boas com danças e cânticos para espantar as forças negativas.

Para os foliões de hoje, me parece que o sentimento de utopia é idêntico! Seguindo as antigas tradições, durante a semana do Carnaval não existem problemas políticos ou sociais, existe apenas a visão de mulheres quase nuas desfilando sem parar!

Algumas escolas de samba ainda falam da realidade do Brasil e contam nossa história através de seus belos enredos. Porém, os grandes patrocinadores tornam este momento único em um “Carnaval para inglês ver”!

PS: “Tanto riso, ó quanta alegria”, “Mamãe, mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar”, “Ó abre alas, que eu quero passar”...

Publicado em 16/02/2012, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

“O Grande Irmão”

“Big Brother Brasil”, reality shows... É fantástico! No show da vida, vivemos mais do que nunca no limite entre a realidade e a fantasia.

Você chega em casa, liga a televisão, assiste a um filme ou a uma novela. Até aí, tudo bem, temos certeza de estar vendo histórias onde atores interpretam personagens. De repente, as imagens se confundem na telinha. Aparecem cenas e mais cenas de pessoas comuns na “intimidade” da casa do programa “Big Brother” – tradução: “O Grande Irmão”...

Competições, intrigas e tragédias. E lá estamos nós, sofrendo com estes “personagens”, torcendo ou não por eles e querendo saber sobre detalhes de seu dia a dia.

Todos nós soubemos pela TV do suposto estupro na 12ª edição do BBB. Após uma festa ocorrida no programa do dia 14 de janeiro, a estudante Monique Amin, 23 anos, e o modelo Daniel Echaniz, 31, passaram parte da madrugada deitados juntos sob um edredom.

Assinantes do pay-per-view do BBB e usuários da web que viram o vídeo replicado na internet acuraram Echaniz de se aproveitar da embriaguez de Amin para abusar dela sexualmente, e pediram sua expulsão do programa.

A repercussão fez com que policiais da 32ª DP do Rio fossem aos estúdios da TV Globo investigar o suposto estupro. Para a Rede Globo, “as carícias haviam sido consensuais”. Amin disse não se lembrar do que teria ocorrido.

O imbróglio todo foi parar na Secretaria de Políticas para Mulheres e no Ministério Público do Rio, que informou que só poderia agir se a participante fizesse uma denúncia formal.

Para fechar o caso com chave de ouro, no programa do domingo seguinte, o apresentador Pedro Bial soltou uma “pérola”: “O amor é lindo”...

De repente, acabamos perdendo a noção da realidade de nossas vidas versus a importância do fato acontecido. Quem será a próxima vítima? Dizem que vivemos na era da informação. Mas para que serve este tipo de informação?

PS: Afinal de contas, o que é esse “Grande Irmão”? Sugiro ler, ou reler, o livro “1984”, de George Orwell. E olha que já estamos em 2012!

Publicado em 09/02/2012, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

“Pequeno Príncipe”

Num país como o Brasil, onde existem milhares de analfabetos e falta de escolas públicas, chega a ser um privilégio poder ler e até escrever. Não bastasse esta realidade cruel que nossas crianças e adultos vivem já há muitos e muitos anos, ainda somos pegos de surpresa por um programa do Ministério da Justiça para reduzir as penas dos presos mais perigosos do País.

O projeto, orçado em mais de 34 mil reais, irá distribuir 816 livros para as quatro penitenciárias federais do país, concedendo benefícios de redução de pena aos detentos-leitores. Entre os títulos estão “O Pequeno Príncipe”, clássico de Saint Exupéry, “Crime e Castigo”, de Dostoiévski, “Código da Vinci”, de Dan Brown e até a trilogia “Crepúsculo”, de Stephenie Meyer.

Na penitenciária de Catanduvas, no Paraná, que tem 60 presos participando do projeto, um juiz concede até quatro dias para quem ler um livro em até 12 dias e apresentar uma resenha. Uma comissão avalia a redação e, se considerá-la de boa qualidade, concede ao detento um dia de redução na pena. Já na de Campo Grande (MS), concedem-se três dias de redução da pena para cada 20 dias que o detento utilizar para ler um livro.

Segundo agentes penitenciários, Fernandinho Beira-Mar, que cumpre pena de 120 anos e já passou pelas duas penitenciárias, é um “consumidor voraz” de livros. Já leu “O Caçador de Pipas”, de Khaled Housseini e “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu.

Concordo que eles também são seres humanos. Mas não será, mais uma vez, um projeto apenas “politicamente correto”? Ou uma boa saída para os governantes se eximirem de investir em nossa educação e poder falar cada vez mais que somos um “país emergente”? Emergente do quê e de onde?

Vivemos em uma realidade na qual crianças e adultos ainda falam: “os livro” e “nós pega o peixe”. Regras básicas de nossa língua portuguesa ainda não são assimiladas ou mesmo ensinadas nas escolas.

PS: Se você ainda não leu o livro “O Pequeno Príncipe”, é bom ler. Com certeza, ele vai voltar a ser o hit da moda!

Publicado em 02/02/2012, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).