quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

De quem é a responsabilidade?

Uma pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apontou que cerca de 4,5 milhões de idosos - 1,3 milhão a mais do que em 2008 - terão dificuldades para exercer as atividades da vida diária nos próximos dez anos. Desse total, curiosamente, 62,7% são do sexo feminino.

Para Ana Amélia Camarano, coordenadora da área de População e Cidadania do instituto, mesmo que a proporção de idosos com incapacidade funcional diminua como resultado de melhorias nas condições de saúde e de vida em geral, ainda assim, muito provavelmente cerca de 3,8 milhões de idosos vão precisar de cuidados de longa duração em 2020.

“O objetivo do estudo é levantar a discussão sobre de quem é, de fato, a obrigação de cuidar das pessoas idosas e se esse cuidado tem que se transformar em um risco social. A questão é se essas pessoas têm o direito ou não de ser segurado do Estado, como ocorre no caso da Previdência Social e da assistência à saúde”, diz.

Eu acho que o Estado tem, sim, que assumir uma posição mais efetiva na criação de mecanismos de proteção e cuidado das pessoas idosas. Devido à ausência de uma política estruturada de cuidados formais do idoso, hoje, a família acaba desempenhando o papel de cuidar de aproximadamente 3,2 milhões de idosos sem praticamente nenhum apoio, seja do Estado ou do setor privado.

Em janeiro de 2009, o Portal Terceira Idade lançou a Campanha “Seja um Cuidador Voluntário”, com o objetivo de formar uma lista, de abrangência nacional, com pessoas que queiram doar seu tempo para idosos e pessoas sozinhas que não tem mais a capacidade de cuidar de si mesmas. Hoje, a campanha conta com centenas de voluntários (as) de todo o país.

Se você quiser doar um pouco de seu tempo para estas pessoas que já cuidaram muito de todos nós, acesse www.portalterceiraidade.org.br e cadastre-se. Assim, enquanto o governo resolve se vai ou não assumir esta responsabilidade social, nós, cidadãos, já vamos assumindo a nossa!

Publicado em 27/01/2011, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´ de Marília (SP), da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Chuva com “Passione”!

Semana passada, um grande evento aconteceu: terminou a novela ‘Passione’. E, como a ‘vilã’ da estória se saiu bem, parece que muitas pessoas não gostaram... Mas, como sempre, a arte imita a vida!

Outro grande evento, que vem surtindo até matérias no exterior e em todo o Brasil, são as chuvas intensas e todo o estrago absurdo e desumano que estão causando devido à falta de prevenção de nossos governantes!

Absurda e surrealista a situação que São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais estão vivendo por causa de um fator meteorológico tão natural quanto a chuva: mais de 700 mortos na região serrana do Rio, desabamentos, pessoas desprovidas de suas casas e doenças. Tudo isso por causa da chuva ou por causa de uma prevenção que deveria ter sido feita, já que o fato estava anunciado pelas autoridades meteorológicas e simplesmente nada foi feito!

Mais irônico ainda, o fato de o Brasil negar ajuda da ONU com receio de diminuir o seu índice de “independência financeira” no ranking dos países em desenvolvimento. E tem mais: tão furtivo e malicioso quanto os vilões de ‘Passione’, o governo nega tudo e atribui estas catástrofes simplesmente ao aumento das chuvas...

Será que o Haiti é aqui? O Brasil nem teve um tsunami e está em uma situação de alerta vermelho, com um número de mortos nunca antes visto.

Penso que os nossos governantes sofrem de algum complexo de superioridade... Enviam dinheiro para o Haiti, África e outros países “pobres” e, para nós mesmos, nada. Nem prevenção, nem investimento em construção de casas em áreas que não sejam de risco para as pessoas menos favorecidas, nada. Aqui, está tudo bem para eles, “os reis da cocada”... E qual o preço que se paga por tanta arrogância e mesquinhez de nossas autoridades? O grande vilão vai sair impune com muita “Passione”?

“Brasil não é Bangladesh. Não tem desculpa para permitir, no século 21, que pessoas morram em deslizamentos de terra causados por chuva.” (Debarati Guha - Sapir, consultora externa da ONU)

Publicado em 20/01/2011, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´ de Marília (SP), da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

“Favela Tour”

Não posso negar meu espanto quando vi, no caderno de turismo em um jornal de SP, uma matéria sobre um novo roteiro turístico para as férias: as favelas do Rio de Janeiro. “Com a pacificação das favelas, é possível que turistas conheçam novos ângulos das praias e da cidade. A segurança para circular é ‘semelhante à do asfalto’”. A matéria destaca os principais atrativos turísticos: Morro do Alemão, do Borel, Morro Santa Marta, Cantagalo, etc. Em todos os morros, temos várias opções: um mirante, a igreja da Providência construída há cerca de 200 anos, além de opções de guias locais.

Esta exaltação às favelas cariocas é o que mais me surpreende e, se não me falha a memória, há menos de um mês atrás esta região era considerada uma das mais perigosas e completamente dominada pelas drogas. De repente tudo mudou... Como eu havia escrito em colunas anteriores, o ano mudou e, num piscar de olhos, todo o complexo do Alemão e adjacências está “pacificado” e ainda mais, pronto para receber turistas de todo o mundo!

Tudo muito politicamente correto. Quero deixar claro que não estou descriminando ninguém e muito menos as favelas, muito pelo contrário. Acho um absurdo transformar a questão da favelização, não só do Rio, mas de todo o Brasil, em um grande circo pra inglês ver! Enquanto milhares de pessoas vivem nelas em uma situação desumana, sem água potável, esgoto, em casas construídas nos morros com restos de papelões, nosso governo quer nos convencer e, pior, convencer o mundo afora, de que favela é sinônimo de cultura e turismo!

Daqui a pouco, morar na favela vai ser “bacana”. Vão até dizer que é um projeto de vida sustentável e ecológico, já que todas as casas são feitas com “material reciclado” e você vive sempre perto da natureza em “estado intocável”.

PS 1: Favela (do dicionário Michaelis): Aglomeração de casebres ou choupanas toscamente construídas e desprovidas de condições higiênicas.
PS 2: Estande do Rio Top Tour, do governo estadual, informa sobre pontos de visitação.

Publicado em 13/01/2011, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´ de Marília (SP), da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Meu caderno novo!

Hoje me sinto como no primeiro dia de aula! Lembro de quando era criança e, nesta época do ano, meus pais já tinham toda a lista do material escolar do novo ano letivo: cadernos, livros, borracha, lápis... Ficava ansiosa esperando começar as aulas para usar tudo novinho e, o mais importante, prometia para mim mesmo que este ano eu ia começar o caderno novo escrevendo tudo com uma letra linda, ia fazer todos os deveres de casa, e seguir o resto do ano mantendo o caderno lindo, sem rabiscos, rasuras e tirando boas notas!

O que me levou a lembrar desta época foi uma matéria que li esta semana, na qual o autor comentava que em todo início de ano ele se prometia ter atitudes e fazer todas as coisas que não havia feito no ano anterior. Mas, ao mesmo tempo, ele dizia que não acreditava mais nesse tipo de situação, já que todo o ano era a mesma coisa, pois, com a correria do dia a dia e os problemas inesperados, acabava não conseguindo cumprir suas metas, tais como iniciar um regime, caminhar, mudar de emprego, fazer um curso, casar, separar, e tantas outras ‘cositas’ mais...

Cheguei à conclusão que ambas as situações são muito parecidas. Todo início de ano é como se estivéssemos ganhando um caderno novo cheio de folhas brancas a serem preenchidas e, daí, fazemos disso nossa meta de vida e acabamos nos estressando, e muito, criando o dever de fazer neste ano o que as vezes não conseguimos fazer ao longo de toda nossa vida.

Também, pudera... Os políticos eleitos falam em alto e bom tom que vão acabar com a pobreza do Brasil, construir casas, escolas, hospitais... Tudo isso neste ano. Os comercias nos bombardeiam com a ideia de que, já que o ano mudou, temos que mudar de carro, de móveis, de casa, até nós mesmos temos que nos “mudar”, fazer uma lipo, uma cirurgia plástica...

Muita calma neste momento. Tudo bem, estamos em 2011, mas as coisas não mudam do dia pra noite. Pense bem, o que realmente tem que mudar?

PS: Vou comprar meu caderno novo hoje mesmo!

Publicado em 06/01/2011, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´ de Marília (SP), da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).