quinta-feira, 30 de abril de 2015

O “Trem das Onze” realmente existiu

“Não posso ficar nem mais um minuto com você. Sinto muito amor, mas não pode ser...” O trecho é da música “Trem das Onze”, de Adoniran Barbosa, de 1964, Naquele ano, o sambista disse à sua amada, na época, que não podia ficar nem mais um minuto com ela. Tudo porque morava em Jaçanã e, se perdesse o trem das 11, só voltaria para casa na outra manhã – além de provocar uma noite de insônia em sua pobre mãe. Assim, sem querer, imortalizou a linha da Tramway, condutora do tal trem, que realmente existia. Criada em 1894, foi extinta no ano seguinte ao do sucesso musical, em 1965.

Este ano, comemora-se o cinquentenário da música – criada em 1964, a canção foi premiada no Carnaval do Rio de Janeiro somente no ano seguinte. Além dos Demônios da Garoa, o samba recebeu uma versão da cantora baiana Gal Costa.

“João Rubinato não é nome de cantor de samba...”

Adoniran achava que João Rubinato, seu nome verdadeiro, não era nome de cantor de samba. Resolveu mudar. De um amigo, pegou emprestado Adoniran e, em homenagem ao sambista Luiz Barbosa, adotou seu sobrenome.

Adoniran, que faria 105 anos em agosto deste ano, nasceu em Valinhos, no interior de São Paulo, em 1910. Filho de imigrantes italianos, abandonou os estudos ainda no primário para trabalhar. Foi tecelão, balconista, pintor de paredes e até garçom. No começo da década de 30, passou a frequentar os programas de calouros da rádio Cruzeiro do Sul de São Paulo. Ganhou seu primeiro prêmio com a marcha ´Dona Boa´, em 1934, conquistando o 1º lugar.

Suas músicas, entre elas, ‘Malvina’, ‘Samba do Arnesto’ e ‘Saudosa Maloca’, representam um dos painéis mais importantes da cidadania brasileira. Os despejados das favelas, os engraxates, a mulher submissa que se revolta e abandona a casa, o homem solitário, estão intactos nas criações de Adoniran que, com humor, descrevia as cenas do cotidiano. O compositor morreu em 1982, aos 72 anos de idade.

PS 1: 1º de maio é Dia do Trabalho.
PS 2: Salve os trabalhadores do “trem das 11”!

Publicado em 30/04/2015, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Lingerie: uma questão política?

Quem não gosta de lingeries? Comprar um sutiã novo com alça, sem alça, de bojo, mais confortável, uma calcinha cheia de rendinhas, escolher cores diferentes, enfim, estas peças íntimas fazem parte da vida das mulheres. E dos homens também!

O que me levou a lembrar destes, literalmente, pequenos acessórios do guarda-roupa feminino foi um documentário que vi há poucos dias na TV. Logo de cara, gostei do enfoque “A história da Lingerie”.
No início, tudo estava muito bem, mulheres francesas gostam de usar peças mais sofisticadas, as japonesas gostam mais de sutiãs com desenhos de bichinhos, as russas, peças mais sexy e extravagantes. De repente, começaram as perguntas sobre o porquê do gosto de cada uma delas. Aí, ouvi respostas politicamente incorretas, porém, infelizmente, verdadeiras... As russas diziam que os homens de seu país são muito grossos, bebem e batem nas mulheres e, por isso, elas usavam a lingerie como um dos mais importantes artifícios para seduzir homens que fossem bons para casar.

Já as japonesas relataram que, lá, os homens gostam de mulheres infantilizadas e que possam ser dominadas, daí a busca por peças bem “baby”. Ufa, de repente me vi triste e irritada com o que eu estava ouvindo. Será que voltamos no tempo? Cadê a independência feminina, a busca pelos direitos da mulher, a denúncia de abusos e maus-tratos por parte dos maridos e companheiros?

Nas décadas de 1960 e 1970, surgiram os movimentos feministas, foi criada a pílula e mulheres começaram a ocupar cargos importantes em nossa sociedade. E, agora, como fica tudo isso? Cabe a nós mesmas impor limites e respeito. Do jeito que as próprias mulheres estão se mostrando, com e sem roupa, não há santo que as respeite!

Ah, nas Arábias, as mulheres dos xeiques vão comprar lingeries tipo “mulher objeto”, mas sem tirar a burca! Quanta hipocrisia e machismo às avessas...

PS.  Por onde anda a Mulher Pera?

Publicado em 23/04/2015, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Quem é Vanuíre?

O Brasil, terra de índios colonizada pelos portugueses e tantos outros povos, possui centenas de histórias de conflitos e guerras pela posse das terras nas quais os índios aqui já habitavam.

Uma destas histórias está no interior de São Paulo, no município de Tupã, onde fica o Museu Histórico e Pedagógico Índia Vanuíre, nome dado em homenagem à índia que foi a figura pacificadora entre índios e brancos na época da colonização local.

Com a construção da estrada de ferro Bauru - Mato Grosso, em 1912, os brancos avançaram nas terras que os índios já habitavam. Assim começou mais uma história de guerra e mortes. “Vanuíre pertencia à tribo Kaingang. Ela teve que tentar a pacificação, pois estavam exterminando uma nação guerreira”, afirma Tamimi David Rayes Borsatto, 71, gerente geral do museu.

De tanto entoar canções de paz – ela costumava subir em um tronco de jequitibá, onde permanecia o dia todo cantando – a índia pacificadora conseguiu salvar parte de sua tribo. Vanuíre faleceu logo depois, em 1918. Após o fato consumado, em 1929, é fundado o município de Tupã, nome de origem Tupi-Guarani, cujo significado é Deus.

O museu, fundado em 1966, reúne uma das mais importantes coleções etnográficas do país, com cerca de 38 mil peças que representam diferentes comunidades indígenas brasileiras, dos caiapós aos ianomâmis – incluindo os kaingangs e krenacs, povo que ainda hoje habita a região de Tupã –, com exposições que incluem textos explicativos e recursos multimídia.

PS 1: O Dia do Índio é celebrado em 19 de abril, para ficar na história a primeira participação de líderes indígenas em um congresso, em 1940. Nesse mesmo evento, foi criado o Instituto Indigenista Interamericano, para zelar pelos direitos dos índios nas Américas.

PS 2: Será que os índios e mais alguém sabe desta data? E quem está zelando por eles?

PS 3: Parabéns pelo trabalho de Tamimi Borsatto e a equipe do museu em homenagem à Índia Vanuíre.

Publicado em 16/04/2015, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quarta-feira, 8 de abril de 2015

“Meninos de rua”

O título acima parece até nome de uma nova banda ou grupo de pagode... Infelizmente, não é. Quando andamos pelas ruas ou saímos nos fins de semana para as baladas, já nos acostumamos a ver e conviver com uma legião de meninos e meninas de rua pedindo esmolas ou querendo lavar a janela do nosso carro e, imediatamente, nos vêm aqueles sentimentos de raiva, medo e aquela sensação de um grande incômodo.

Mas, logo que o farol abre, você atravessa a rua ou dá a partida no carro e pensa: “Ufa, que alívio”. Essas imagens acabam ficando apenas na nossa memória, sumindo ao menor sopro, assim como bolhas de sabão.

Puxa vida, esses seres humanos, adultos, jovens ou crianças, são tão humanos quanto nós. E por que será que eles estão nas ruas e nós não? Acho que só o fato de pensarmos nisso já é um começo para tentar entender e buscar os milhares de motivos que os levaram a chegar a esse ponto.

Vivemos num mundo cheio de beleza e desigualdade. Qual será a história desses jovens que praticamente viraram bichos? Com certeza, eles não pediram para estar nesta situação! E nem estariam lá se eles, ou seus pais, tivessem tido acesso à educação, saúde, casa, trabalho, amor, dignidade e direitos humanos!

É muito fácil chamá-los de vagabundos, incompetentes, drogados, etc., etc... Mas é muito mais difícil nos colocarmos em seu lugar, ou então buscarmos a raiz da questão!

Nada acontece do dia para a noite... Ficar esperando que sobreviva o mais forte ou que cada um se vire como puder e, ainda por cima, colocar a culpa no mais fraco, não vai resolver absolutamente nada!

Uma sociedade só muda quando seus cidadãos lutam por isso. Acredito que cada geração deve ajudar a sua e a seguinte a irem mais longe.

PS 1: Daqui a pouco vão querer diminuir a maioridade penal para 15, 14, 12, 10 anos...

PS 2: Será que os governantes vão querer construir “creches penais”?

PS3: “Brasil – Pátria Educadora”... Desde quando?

Publicado em 09/04/2015, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Muitos ovos! Com ou sem reflexão?

A Páscoa é um momento de reflexão que nos possibilita avaliar o que significou o sofrimento de Jesus Cristo. Para o comércio, é o momento de vender ovos, muitos ovos! E, diga-se de passagem, cada vez mais caros e praticamente obrigatórios para as crianças e adolescentes, que são invadidos e seduzidos pelos ovos ‘Barbie’, ‘Justin Bieber’...

 Bem, resolvi voltar um pouquinho no tempo – quando ainda não existiam as fábricas de chocolates e nem a televisão ou supermercados.

A história da Bíblia narra a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém, que despertou nos sacerdotes e mestres da lei muita inveja, desconfiança e medo de perder o poder. Começava, aí, a trama para condenar Jesus à morte! Estimulada por esses sacerdotes, a mesma multidão que o aclamou passou a exigir de Pôncio Pilatos, governador romano da província, que condenasse Jesus à morte. Jesus, então, é crucificado. A festividade da Páscoa é a celebração da ressurreição de Jesus Cristo, que teria ocorrido três dias depois da sua crucificação.

É nesse contexto que entram os ovos. Segundo a tradição cristã, o ovo – no caso da galinha – era pintado e oferecido aos amigos e vizinhos para celebrar a vida. No século 19, dois séculos depois do chocolate ser levado para a Europa, trazido pelos conquistadores que “fizeram a América”, os ovos começaram a ser confeccionados com chocolate. Daí prá frente, não preciso contar muito... Claro que chocolate é uma delícia e os ovos de Páscoa dão água na boca!

O domingo de Páscoa, na religião católica, marca a passagem da morte para a vida, das trevas para a luz. Independentemente do conceito religioso, acho que é um bom momento para refletir, lembrar e tentar praticar o que Cristo já pregava há dois mil anos atrás: caridade, fraternidade e amor ao próximo. Feliz Páscoa!

PS 1: Dá pra tentar praticar isso comendo um ovinho de chocolate também!
PS 2: Dá pra praticar isso sem comer um ovinho de chocolate também!
PS 3: Dá pra praticar isso o ano inteiro!

Publicado em 02/04/2015, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).