quinta-feira, 27 de outubro de 2016

“Heranças indígenas com o pudor português”

Do primeiro teste da bomba atômica no Atol de Bikini, no Oceano Pacífico, em 1946, até a confecção da “peça mais desejada da moda brasileira”, o biquíni guarda uma história de vanguardismo, sexo e moralismo ligada à relação da mulher com o próprio corpo.

“A relação dos índios com o corpo revela nossa forma de usar o biquíni. Mulheres de uma tribo no Xingu, por exemplo, cobrem a intimidade com o uluri (cinto que só envolve uma pedaço da cintura). As brasileiras, por menor que seja o biquíni usado, também se consideram vestidas. Carregamos heranças indígenas com o pudor português”, explica o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro.

São tantas estórias e mitos sobre estas duas peças que cobrem o corpo da mulher ocidental, e que no Brasil, mais do que em qualquer outro país do mundo, fazem parte do imaginário masculino, além de tornarem a mulher brasileira em um constante, “objeto do desejo”, que a jornalista Lilian Pacce passou 13 anos debruçada em entrevistas, fotos e uma vasta checagem cronológica dos fatos que envolvem este traje de banho, curiosamente criado por um francês, Louis Réard.

Em suas pesquisas com personagens-chave para a disseminação do traje, descobriu que a ex-modelo alemã Miriam Etz (1914-2010) foi a primeira mulher a aparecer no Rio, em 1946, com um biquíni “duas peças” – versão que ainda encobria o umbigo.

Bem, de certa maneira, parece fútil nos preocuparmos tanto com a história do biquíni, mas este traje de banho feminino simboliza muito de nossa cultura machista, a qual inverteu e banalizou toda a cultura indígena em nosso país, transformando a pureza do índio e seus costumes em uma moralidade cheia de aberrações e falsos preceitos de pureza e castidade.

PS 1: “Lamento o português ter vestido o índio, e não o índio ter despido o português...” (Oswald de Andrade, famoso escritor modernista)

PS 2: Índios e biquínis “Made in Brazil”!

PS 3: Com este calorão, qualquer biquíni me satisfaz...

Publicado em 27/10/2016, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Outubro Rosa: fitinhas rosas não bastam...

Outubro Rosa é uma campanha de conscientização para a prevenção do câncer de mama. Ao longo de todo o mês, são discutidas importantes informações sobre a prevenção, tratamentos e maneiras de enfrentar essa doença. E os direitos que as mulheres têm assegurados?

Por falta de informação, os pacientes e suas famílias não sabem que podem ter, além do acesso aos medicamentos, também isenções tributárias, como: Imposto de Renda (IR), Imposto sobre operações financeiras (IOF), Imposto sobre a propriedade de veículos (IPVA), além de outros direitos, como transporte gratuito, liberação do fundo de garantia e do PIS/PASEP e mais a cirurgia reconstrutora!

Na maioria dos casos, o câncer de mama deixa mais que marcas psicológicas na mulher, já que o tratamento pode envolver a retirada de parte ou de toda a mama afetada, ou mesmo das duas mamas. Nestes casos, a cirurgia plástica reparadora de mama é um direito garantido às mulheres que sofreram mastectomia total ou parcial. O procedimento pode ser realizado pela rede de unidades integrantes do Sistema Único de Saúde (SUS).

Bem, até aqui citei os direitos legais... Mas como todos nós sabemos, a teoria na pratica é outra. Com certeza, não vai ser nada fácil conseguir ter todos estes direitos citados acima, infelizmente, devido ao descaso e burocratização de nosso governo, desde a época de D. Pedro I, II, entre outros...

Existem duas formas de ir atrás dos seus direitos. A primeira delas é a via administrativa, em que o pedido pelo medicamento é analisado pela Secretaria da Saúde e o paciente tem um retorno posterior. É comum que o pedido seja negado, o que é um absurdo! Então, se faz necessária a ação judicial. Aí, você pensa: “Se eu não posso pagar um medicamento, como vou pagar um advogado?”.

Procure a Defensoria Pública ou Promotoria de Justiça de sua cidade, ambos os serviços são gratuitos. Vale a pena tentar!

PS 1: É tão fácil criar leis e supostos direitos...
PS 2: É tão fácil distribuir milhares de fitinhas rosas...

Publicado em 20/10/2016, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).