Num país como o Brasil, onde existem milhares de analfabetos e falta de escolas públicas, chega a ser um privilégio saber ler e escrever. Não bastasse esta realidade cruel que nossas crianças e adultos vivem já há muitos e muitos anos, ainda somos pegos de surpresa por um programa do Ministério da Justiça para reduzir as penas dos presos mais perigosos do País.
O projeto irá distribuir 816 livros para as quatro penitenciárias federais do país, concedendo benefícios de redução de pena aos detentos-leitores. Entre os títulos estão “O Pequeno Príncipe”, clássico de Saint Exupéry, “Crime e Castigo”, de Dostoievski, “Código da Vinci”, de Dan Brown e até a trilogia “Crepúsculo”, de Stephenie Meyer.
Na penitenciária de Catanduvas, no Paraná, que tem 60 presos participando do projeto, um juiz concede até quatro dias para quem ler um livro em até 12 dias e apresentar uma resenha. Uma comissão avalia a redação e, se considerá-la de boa qualidade, concede ao detento um dia de redução na pena. Já na de Campo Grande (MS), concedem-se três dias de redução da pena para cada 20 dias que o detento utilizar para ler um livro.
Segundo agentes penitenciários, Fernandinho Beira-Mar – que cumpre pena de 120 anos e já passou pelas duas penitenciárias – é um “consumidor voraz” de livros. Já leu “O Caçador de Pipas”, de Khaled Housseini e “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu.
Concordo que os presos precisam de cultura. Mas não será, mais uma vez, um projeto apenas “politicamente correto”? Ou uma boa saída para os governantes se eximirem de investir em nossa educação e continuarem com a balela de que somos um “país emergente”? Emergente do quê e de onde?
Crianças e adultos ainda falam: “os livro” e “nós pega o peixe”. Regras básicas de nossa língua portuguesa ainda não são assimiladas ou mesmo ensinadas nas escolas.
PS 1: As penitenciárias estão super lotadas e as drogas rolam soltas... Que tal lerem “Alice no País das Maravilhas”?
PS 2: E a dança das cadeiras continua...
PS 3: “ Tira, põe, deixa ficar...”
Publicado em 01/06/2017, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).
quinta-feira, 1 de junho de 2017
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