quinta-feira, 27 de março de 2014

Cleuza: a catadora de lixo...

Casualmente, vi em um jornal duas matérias sobre o mesmo tema, as quais, infelizmente, me lembraram que vivemos em uma “Aquarela de Brasis”...

A primeira comentava sobre a importância da leitura, a necessidade de conscientizar os pais a participarem deste processo junto com seus filhos, o cuidado que a família deve ter ao escolher uma escola privada que tenha uma biblioteca atraente e professores preocupados com a leitura.

Logo fiquei intrigada. Por que o autor da matéria frisou “uma escola privada”? E as escolas públicas? Já estão tão bem resolvidas quanto a esta questão? Será que eu não estou sabendo? E os livros? Estão tão fáceis de comprar?

Bem, deixando um pouco de lado estes pequenos grandes detalhes, é bom lembrar que a média de leitura por pessoa no Brasil é de um livro por ano!

Continuei folheando o jornal e, para minha surpresa, vi uma notícia incrível: “Catadora cria biblioteca com obras encontradas no lixo”. A catadora de recicláveis Cleuza de Oliveira, 47 anos, semi- analfabeta, moradora de uma cidade a 455 km de São Paulo, conseguiu realizar seu sonho: criou uma biblioteca dentro da Associação de Catadores, que fica localizada no centro de triagem do lixo.

“Meu sonho era montar uma biblioteca para que todos pudessem ler. De tanto ver livros jogados no lixo, de autores como Machado de Assis, José Saramago, entre outros, comecei a juntá-los. Hoje, temos um acervo com mais de 300 títulos”, comenta Cleuza, na matéria.

Em qual Brasil vivemos? No das escolas privadas, que costumam ter uma biblioteca e, na maioria das vezes, subutilizada? No Brasil dos comerciais lindos que mostram um país quase perfeito? Ou no Brasil que depende de milagres e pessoas iluminadas como Cleuza, a catadora de lixo, para colocar em prática o que já deveria existir há muito tempo?

PS 1: Cleuza de Oliveira garante que todos os livros da biblioteca de sua Associação são emprestados gratuitamente.
PS 2: Andam dizendo por aí que, depois da Copa 2014, vai ser só alegria...

Publicado em 27/03/2014, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 20 de março de 2014

O que te faz feliz?

Vários países, como a Inglaterra e a França, já discutem a ideia de que medições como o PIB (produto interno bruto) não são suficientes para aferir o grau de desenvolvimento de uma nação e de que a felicidade deveria ser um fator a ser contabilizado também.

Mas como medir um fator aparentemente tão subjetivo? Curiosamente, pela primeira vez, a prefeitura de uma cidade americana chamada Somerville resolveu fazer um censo buscando saber a taxa de felicidade de seus habitantes e, a partir daí, traçar políticas públicas.

Daniel Gilbert, professor de psicologia da Universidade de Harvard, resolveu investigar cientificamente como o fator felicidade atua em nosso cérebro. A pesquisa foi realizada através da faculdade de saúde pública de Harvard acompanhando cinco mil pessoas durante 20 anos, utilizando aparelhos de ressonância magnética e grupos de controle, dando, assim, caráter científico a práticas milenares como meditação e yoga. Também nos hospitais foram feitos testes que demonstraram que pessoas felizes têm menos propensão a problemas do coração, hipertensão, diabetes e infecções.

O professor Gilbert pôde constatar cientificamente como determinadas sensações, sejam elas positivas ou negativas, desencadeiam reações biológicas em nosso organismo. Outra cientista da saúde, responsável pelo curso de ciência da felicidade de Harvard, Nancy Etcoff, também afirmou: “O trabalho voluntário aciona um sistema de recompensa muito maior no cérebro do que o cuidado intenso de muitas mulheres e homens com sua aparência física e seus bens materiais”.

Este tipo de conhecimento pode nos alertar sobre o fato de muitas vezes estarmos buscando a satisfação no lugar errado... Reconheço que, no Brasil, é muito difícil falar em felicidade quando ainda, vergonhosamente, falta alimento na mesa de muitos cidadãos. Talvez, no nosso caso, o segredo seja nos doarmos cada vez mais a quem precisa!

PS: “O que faz você feliz? Você feliz o que que faz? Você faz o que te faz feliz? O que faz você feliz você que faz...”

Publicado em 20/03/2014, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 13 de março de 2014

Pizza, kibe, sushi...

O Brasil sempre foi elogiado e reconhecido por ser um país que recebe, sem discriminação, imigrantes do mundo inteiro. Andamos pelas ruas e facilmente encontramos italianos, japoneses, árabes, chineses, portugueses, etc. Sentimos que estamos na famosa “Torre de Babel”.

Porém, a teoria na prática é outra! Quantas vezes você já ouviu ou falou frases do tipo: “Puxa o ´japa´, meu vizinho, é um chato”, ou “Aquele ´branquela´ é um arrogante”? Além das piadinhas sacanas como: “Quando é que o negro vai à escola?...”, ou “O português atendeu o celular e perguntou ´Como sabias que eu estava em um motel?´...”.

No início, é tudo brincadeirinha, depois vira um hábito, uma atitude constante e, num piscar de olhos, você se torna um discriminado ou um discriminador.

A história do nosso planeta é feita de guerras, e os argumentos para justificá-las sempre foram os mesmos: “O meu povo é melhor que o seu”, ou “A minha religião é a única verdadeira”...

Acho super importante cada povo conhecer suas origens, cultivar e praticar seus costumes e sua religião, mas é absurdo usar destas práticas para matar ou humilhar outros seres humanos.

É uma insanidade ver que, nos dia de hoje, a discriminação racial e social ainda esteja tão presente em nossa sociedade! Quantas vezes já acreditei que nosso país não era xenofóbico? E, de repente, não mais que de repente, vêm à tona, novamente, casos de xingamentos e até danos físicos para com cidadãos afro-descendentes, orientais, índios, sem falar na homofobia presente e tão raivosa em nosso dia a dia!

Que bom poder comer pizza num dia, kibe no outro, sushi, feijoada, bacalhoada... Com certeza são comidas bem diferentes, mas todas elas são deliciosas, cada uma com seu sabor, sua cor e sua história.

PS 1: Caso você não goste de alguma das comidas que citei acima, é só não comê-la. Mas, por favor, não fale mal dela e também não jogue fora!
PS 2: Viva a diferença!

Publicado em 13/03/2014, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 6 de março de 2014

Parabéns a todas as mulheres do mundo!

É com muito orgulho que, mais uma vez, todas as mulheres do mundo comemoram, no dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. Esta data foi oficializada em 1910, quando uma conferência internacional na Dinamarca decidiu homenagear um grupo de mulheres que, 53 anos antes – em 1857, foram brutalmente assassinadas.

Em 8 de março daquele ano, as funcionárias de uma fábrica de Nova Iorque decidiram fazer uma grande greve reivindicando melhores condições de trabalho, diminuição da jornada – que na época era de 16 horas –  e salários iguais ao dos homens, o que infelizmente ainda não mudou muito nos dias de hoje! A manifestação foi reprimida com brutal violência. As funcionárias foram trancadas dentro da fábrica, que, em seguida, foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas.

Desde a criação do Dia Internacional da Mulher, muita coisa mudou: as mulheres começaram a ter espaço, mesmo que a duras penas, na política, no trabalho e na educação. O direito de votar e de serem eleitas para cargos nos poderes executivo e legislativo só foi aceito no Brasil em 1932.

Nas décadas de 60 e 70, surgiram os movimentos feministas, foi criada a pílula, acabaram com o “soutien de bojo”, mulheres começaram a ocupar cargos políticos e também diretorias e gerências em empresas privadas.

Hoje, encontramos na história do mundo mulheres reconhecidas pelas suas lutas, pesquisas e artes, tais como: Indira Ghandi, Madre Teresa, Virginia Woolf, Ella Fitzgerald, Chiquinha Gonzaga, entre muitas outras.

Mas também nem tudo virou um mar de rosas... As mulheres ainda continuam sendo discriminadas no mercado de trabalho, as mulatas do Globeleza são sinônimo de carnaval e, infelizmente, várias são violentadas e espancadas em seus próprios lares!

Não deixe que a mídia ou você mesma se banalize! Vamos dar um basta à “Mulher Pêra”, “Mulher Melancia”, “Tiazinha”, etc.

PS: Loiras, morenas, ruivas, altas, baixas, gordas, magras... Uni-vos!

Publicado em 06/03/2014, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).