terça-feira, 19 de março de 2019

O florista foi ao barbeiro...


Um texto muito inteligente de Eça de Queiros apareceu no meu WhatsApp... Em geral, recebo várias coisas que nem consigo ver – e outras que são meio bobagens. O título era exatamente este: “O florista foi ao barbeiro”. Pensei comigo mesma: “Deve ser mais alguma piadinha...”

No final do dia, li com calma a mensagem. Para minha surpresa, o texto cabe direitinho nos dias de hoje, ontem – e espero que o mesmo não seja tão verdadeiro para os dias futuros!

Transcrevo o texto, logo abaixo, e espero que vocês apreciem essa pequena pérola tanto quanto eu:

“O florista foi ao barbeiro para cortar seu cabelo. Após o corte, perguntou ao barbeiro o valor do serviço e o barbeiro respondeu: ‘Não posso aceitar seu dinheiro porque estou prestando serviço comunitário essa semana’. O florista ficou feliz e foi embora.

No dia seguinte, ao abrir a barbearia, havia um buquê com uma dúzia de rosas na porta e uma nota de agradecimento do florista. Mais tarde, no mesmo dia veio um padeiro para cortar o cabelo. Após o corte, ao pagar, o barbeiro disse: ‘Não posso aceitar seu dinheiro porque estou prestando serviço comunitário essa semana’. O padeiro ficou feliz e foi embora.

No outro dia, ao abrir a barbearia, havia um cesto com pães e doces na porta e uma nota de agradecimento do padeiro.

No terceiro dia, veio um vereador para um corte de cabelo. Novamente, ao pedir para pagar, o barbeiro disse: ‘Não posso aceitar seu dinheiro porque estou prestando serviço comunitário essa semana’. O vereador ficou feliz e foi embora.

No dia seguinte, quando o barbeiro veio abrir sua barbearia, havia uma dúzia de vereadores fazendo fila para cortar cabelo.

Essa é a diferença entre os cidadãos e os políticos. ‘Os políticos e as fraldas devem ser trocados frequentemente e pela mesma razão.’
(Eça de Queirós)”

PS 1: Qualquer semelhança não é mera coincidência...

quinta-feira, 7 de março de 2019

“Heranças indígenas com o pudor português”


Do primeiro teste da bomba atômica no Atol de Bikini, em 1946, no Oceano Pacífico, até a confecção da “peça mais desejada da moda brasileira”, o biquíni guarda uma história de vanguardismo, sexo e moralismo ligada à relação da mulher com o próprio corpo.

“A relação dos índios com o corpo revela nossa forma de usar o biquíni. Mulheres de uma tribo no Xingu, por exemplo, cobrem a intimidade com o uluri (cinto que só envolve uma pedaço da cintura). As brasileiras, por menor que seja o biquíni usado, também se consideram vestidas. Carregamos heranças indígenas com o pudor português”, explica o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro.

São tantas estórias e mitos sobre estas duas peças que cobrem o corpo da mulher ocidental, e que no Brasil, mais do que em qualquer outro país do mundo, fazem parte do imaginário masculino, além de tornarem a mulher brasileira em um constante, “objeto do desejo”, que a jornalista Lilian Pacce passou 13 anos debruçada em entrevistas, fotos e uma vasta checagem cronológica dos fatos que envolvem este traje de banho, curiosamente criado por um francês, Louis Réard.

Em suas pesquisas com personagens-chave para a disseminação do traje, descobriu que a ex-modelo alemã Miriam Etz (1914-2010) foi a primeira mulher a aparecer no Rio, em 1946, com um biquíni “duas peças” – versão que ainda encobria o umbigo.

Bem, de certa maneira, parece fútil nos preocuparmos tanto com a história do biquíni, mas este traje de banho feminino simboliza muito de nossa cultura machista, a qual inverteu e banalizou toda a cultura indígena em nosso país, transformando a pureza do índio e seus costumes em uma moralidade cheia de aberrações e falsos preceitos de pureza e castidade.

“Lamento o português ter vestido o índio, e não o índio ter despido o português...” (Oswald de Andrade, escritor modernista)

sábado, 2 de março de 2019

O futuro do Brasil...


Quatro adolescentes entre 12 e 18 anos são assassinados no Brasil, para cada grupo de mil jovens. É o que aponta estudo coordenado pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).

O número é o mais alto desde que começou a ser medido, em 2005. O IHA (Índice de Homicídios na Adolescência) engloba os 300 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes e se baseia nos dados do ano de 2018 do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde.

“Este valor é elevado. Uma sociedade não violenta deveria apresentar valores não muito distantes de zero e, certamente, inferiores a 1”, explicam os autores do estudo.

O futuro do Brasil, representado por esses jovens, está em risco. “Essa alta incidência de violência letal significa que, se as circunstâncias que prevaleciam em 2014 não mudarem, aproximadamente 43 mil adolescentes serão vítimas de homicídio no Brasil entre 2018 e 2021”, alertam.

Fechar os olhos e fingir que nada disto está acontecendo seria uma atitude muito infantil... Daqui a alguns anos, as crianças e adolescentes de hoje serão os adultos de amanhã – que também terão seus filhos, netos, bisnetos... Em que tipo de sociedade estas crianças e adultos de amanhã estarão vivendo?

É como uma bola de neve, quanto mais neve tiver maior ela fica! E aí vem a pergunta: “Por que tantas crianças e adolescentes estão sendo mortos? Tráfico de drogas? Miséria? Falta de educação, moradia, emprego? Pais e mães desestruturados que ainda passam pelas mesmas situações que passaram quando também eram crianças?”

Acredito que seja tudo isso e muito mais – o eterno descaso de nosso governo com a sociedade e seus direitos humanos ao longo de várias gerações.

Difícil achar uma só causa...