quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Favela Tour...

Novo roteiro turístico para os próximos feriados! “Com a pacificação das favelas, é possível que turistas conheçam novos ângulos das praias e da cidade. A segurança para circular é ‘semelhante à do asfalto’”. A afirmação é de uma matéria publicada na mídia impressa em 2011 e destaca como principais atrativos turísticos o Morro do Alemão, do Borel, Cantagalo, além de opções de guias locais.

Tudo muito politicamente correto... Num piscar de olhos, todo o complexo do Alemão está “pacificado” e, ainda mais, pronto para receber turistas de todo o mundo!

Esta exaltação às favelas cariocas é o que mais me surpreende já que essa, se não me falha a memória, é considerada uma das mais perigosas e completamente dominada pelas drogas – o que não mudou muito de lá para cá. Matéria publicada ontem no UOL destaca que a atividade foi suspensa por conta da violência na favela da zona sul do Rio. O conflito armado na Rocinha e o medo da violência levaram a agência Rocinha by Rocinha, que promove o turismo na comunidade, a suspender os passeios a pé – conhecidos como “walking tours”.

Quero deixar claro que não estou descriminando ninguém – e muito menos as favelas, muito pelo contrário. Acho um absurdo transformar a questão da favelização, não só do Rio, mas de todo o Brasil, em um grande circo pra inglês ver! Enquanto milhares de pessoas vivem nelas em uma situação desumana, sem água potável, esgoto, em casas construídas nos morros com restos de papelões, nosso governo quer nos convencer e, pior, convencer o mundo afora, de que favela é sinônimo de cultura e turismo!

Daqui a pouco, morar na favela vai ser “bacana”. Vão até dizer que é um projeto de vida sustentável e ecológico, já que todas as casas são feitas com “material reciclado” e você vive sempre perto da natureza em “estado intocável”...

PS 1: Favela (do dicionário Michaelis): Aglomeração de casebres ou choupanas toscamente construídas e desprovidas de condições higiênicas.

PS 2: No tour de ontem foram mobilizados mais de 1.000 policiais e homens do Exército, além de tanques de guerra...

Publicado em 28/09/2017, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Pizza, quibe...

O Brasil sempre foi elogiado e reconhecido por ser um país que recebe, sem discriminação, imigrantes do mundo inteiro. Andamos pelas ruas e facilmente encontramos italianos, japoneses, árabes, portugueses... Sentimo-nos como se estivéssemos na famosa “Torre de Babel”.

Porém, a teoria na prática é outra! Quantas vezes você já ouviu ou falou frases do tipo: “Puxa o 'japa', meu vizinho, é um chato...”, ou “Aquele 'branquela' é um arrogante...”, além de piadinhas sacanas como: “Quando é que o negro vai à escola?...”, ou “O português atendeu o celular e disse que estava no motel...”

No início, é tudo brincadeirinha, depois vira um hábito, uma atitude constante e, num piscar de olhos, você se torna um discriminado ou um discriminador.

Neste momento, o Brasil passa por um momento muito importante, no que tange não só à etnia, mas à opção sexual. A questão de ser ou não ser gay, lésbica, bissexual, ou seja qual for a escolha do ser humano, ainda é uma questão que gera muita polêmica e também discriminação.

Mesmo tendo sido aprovado pelo Superior Tribunal Federal o casamento entre pessoas do mesmo sexo – além do direito à pensão, herança, previdência e comunhão de bens –, ainda assim estamos muito longe da aprovação e aceitação de nossa sociedade quanto a este fato!

Muitos religiosos e mesmo cidadãos comuns se revoltaram, dizendo que isso é uma afronta à moral da sociedade e da família, ou que ser homossexual é doença ou “coisa do demônio”...

Estamos no século 21 e parece que a caça às bruxas da era medieval continua a mesma!

Por que não aceitamos ou não conseguimos conviver com pessoas que têm uma opção sexual diferente? Afinal de contas, essa opção não é contagiosa, não mata nem explode bombas ou vicia como o crack e outras drogas! É uma opção à qual cada um de nós tem o direito de escolher.

Que bom poder comer pizza num dia, quibe no outro, sushi... Viva a diferença!

PS 1: Caso você não goste de alguma comida que citei acima, tudo bem, mas, por favor, não as discrimine!

PS 2: Viva a diferença!

Publicado em 14/09/2017, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Independence Day...


Dia da Independência Tupiniquim! A história que aprendemos desde crianças na escola é que no dia 7 de Setembro de 1822, próximo ao riacho do Ipiranga, Dom Pedro levantou a espada e gritou: “Independência ou Morte!”.

Pouco se comenta que o povo, na época, nem sequer acompanhou ou entendeu o significado da independência. A estrutura agrária continuou a mesma, a escravidão se manteve e a distribuição de renda continuou desigual. A elite agrária, que deu suporte a D. Pedro I, foi a camada que mais se beneficiou.

Desde então, se passaram quase 200 anos, porém todos estes fatos me remetem, mais do que nunca, aos dias de hoje. O nosso país continua sendo extremamente desigual – em todos os sentidos: econômico, social e político. Quem não gostaria de ser independente, ter o direito ao seu sustento, moradia, estudar, trabalhar, ter acesso a hospitais, luz e rede de esgoto? Mas, já diz um bom e velho ditado: “A liberdade não se ganha, se conquista!”.

Aparentemente, podemos ir e vir, afinal, acabou a escravidão (!?)... Mas qual é o significado da nossa independência? É possível dizer que vivemos como cidadãos livres, seja na área urbana ou rural, se ainda existem pessoas que chegam a ganhar 30 ou 50 reais por mês e usam seu dedo polegar como assinatura?

Hoje, os beneficiados – e, diga-se de passagem, muito bem beneficiados – continuam sendo os mesmos! Só mudaram de nome. Mas como isso é possível? Temos uma nova classe emergente, cheia de cartões de crédito – e dívidas com juros praticamente impagáveis. Nossa população tem celulares, TVs de plasma, acesso ao Facebook, carros importados! É... acho que estou exagerando... Olha só quantas coisas que não mudam em nada a estrutura social de nosso país mudaram!

PS 1: Você sabia que Dom Pedro pagou à Portugal 2 milhões de libras esterlinas pela nossa independência? E ainda com dinheiro emprestado!

PS 2: Será que as malas cheias de dinheiro que foram encontradas ainda são do empréstimo que Dom Pedro fez?

PS 3: Bom feriado!

Publicado em 07/09/2017, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).