quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Réu ou vítima?


A educação em nosso país tem sido um problema grave ao longo de décadas. A cada ano que passa, a evasão nas escolas públicas aumenta cada vez mais. O aluno começa a estudar e, depois, devido a problemas de falta de estrutura familiar e financeira, acaba saindo da escola, mesmo antes de acabar o primeiro semestre.

Infelizmente, esse fato já se tornou corriqueiro. Porém, já há um bom tempo, vem acontecendo, também, uma evasão escolar por parte dos professores – situação que a mídia pouco comenta.

Dados recentes indicam que são dadas 92 licenças por dia a professores da rede pública, por estresse, crises nervosas e medo dos alunos. O que soma um total de 70% de licenças no Estado de São Paulo.

Quando uma criança pequena não quer ir à escola no primeiro dia de aula, isso é mais do que normal – ou adolescentes que “matam” as aulas para ir ao cinema, tudo bem. Mas os professores estarem com medo de ir à escola, aí a coisa é grave!

“Eu não quero mais voltar para a sala de aula”, diz Nadia de Souza, 54 anos, professora de história. Ela foi ameaçada de morte por um aluno e diz ter sido ameaçada outras quatro vezes, atingida por urina e quase atingida por uma carteira jogada do terceiro andar da escola que lecionava. Hoje, Nadia está afastada, com depressão profunda e sem sair de casa há mais de um ano.

Bem, quem é o réu e quem é a vitima? Os governantes vivem falando em capacitar mais os professores, dão merendas, uniformes – até “Bolsa Família” –, se a criança for à escola...

Mas e no dia a dia, nas ruas, nas periferias, onde as drogas rolam soltas? As famílias destes alunos estão desestruturadas devido à falta de emprego, moradia, saúde, valores humanos, etc. Como é possível esperarmos que uma criança ou um jovem que vive este esta realidade se comporte como um ser civilizado, dentro de uma sala de aula, se ele não é considerado um ser humano fora dela?

PS 1: Quem vem primeiro: o ovo ou a galinha?

PS 2: Enquanto nossa sociedade não mudar, a barbárie vai continuar atingindo a todos!

Publicado em 22/02/2018, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

“Mais de mil palhaços no salão...”

Dalva de Oliveira cantava essa música e mal sabia ela que estava tão certa!: “mais de mil palhaços no salão...”.

E fora do salão? Talvez sejamos mais de duzentos milhões de palhaços! Parece duro falar assim, mas que outra conclusão posso tirar de um país onde a miséria rola solta e os donos do circo estão no poder? Inclusive, estes nem de fantasia precisam, pois já usam suas “máscaras negras” o ano inteiro...

Agora que já curtimos a folia, só Deus sabe o que nos espera... Este ano, finalmente algumas escolas de samba falaram da nossa realidade!

O “Carnaval do Protesto” uniu sambódromo e folia de rua pelo país, com críticas contra políticos, judiciário e políticas públicas em escolas de samba do Rio e blocos de Salvador, Recife e Belo Horizonte. Já em São Paulo, as críticas foram mais tímidas, mas também existiram.

No Rio, a escola Beija-Flor traçou paralelo entre “Frankenstein”, de Mary Shelley, com o momento do Brasil. Ratos representaram políticos e sobraram críticas à criminalidade, ao sucateamento das redes de saúde e educação e à corrupção. Um dos carros encenou a violência cotidiana do Rio – em uma das encenações, alunos foram baleados, em outras, apareciam crianças em caixões e policiais mortos...

Li uma pesquisa que cita o surgimento do Carnaval como uma festa que já existia dez mil anos antes de Cristo, quando os povos que habitavam as margens do rio Nilo, no Egito, comemoravam suas colheitas.

Os homens daquela época entravam em estado de utopia através da comemoração. No momento da festa, se desligavam das coisas ruins e saudavam as que lhes pareciam boas, com danças e cânticos para espantar as forças negativas.

Para a maioria dos foliões de hoje, me parece que o sentimento de utopia é idêntico! Seguindo as antigas tradições, durante a semana do Carnaval não existem problemas políticos ou sociais, existe apenas a visão de mulheres quase nuas desfilando sem parar...

PS: “Tanto riso, oh, quanta alegria”, “Mamãe, mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar”, “Ó abre alas, que eu quero passar”...

Publicado em 15/02/2018, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).