quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Pergunta: de que cor?

Desde o descobrimento do Brasil até hoje, existe uma enorme exclusão social, e essa desigualdade também tem cor. Quantas vezes você já ouviu, ou até falou: “Sabe aquele cara de cor? Até que ele é legal”. Aí vem a pergunta: de que cor?

Todos nós temos uma cor: branca, amarela, vermelha, negra... Todos nós temos uma etnia. Porque será que, sempre que falamos “de cor”, estamos nos referindo aos negros?

Ficamos indignados ao ouvir os discursos xenofóbicos e nazistas de líderes de extrema direita, enquanto, aqui, tratamos os negros e os índios como estrangeiros que vieram roubar o trabalho dos brancos. Afinal, foram os próprios colonizadores brancos que trouxeram os negros da África para trabalhar como escravos, e os índios já estavam aqui!

O racismo – sutil e disfarçado – no Brasil continua impossibilitando a igualdade de direitos de cidadania. Toda discriminação acaba se transformando em preconceito, e todo preconceito é uma faca de dois gumes: amanhã você pode se tornar a  próxima vitima... Infelizmente, ainda não aprendemos a respeitar as diferenças, que dirá conviver com elas.

Na época da Copa, a FIFA lançou a campanha "Diga não ao racismo". Jogadores posaram para fotos oficiais com cartazes contra o preconceito racial e mensagens sobre o tema foram passadas aos torcedores nos estádios. E adiantou alguma coisa?

Na  visão do ex-jogador campeão do mundo com a França, Lilian Thuram, trata-se de uma iniciativa positiva, mas insuficiente diante do tamanho do problema. “Acho que o futebol é um meio importante para lutar contra o racismo e é possível ir além nessa reflexão”, enfatiza.

O francês lembrou ainda que é fundamental trabalhar o problema do racismo entre os mais jovens. “Não é uma luta. Gosto mais de falar em uma reflexão. Reflexão sobre racismo, sobre sexismo, sobre homofobia”, afirma Thuram.

PS 1: Qual será a cor dos ETS?
PS 2: Faz tanto tempo que não vejo um arco-íris...

Publicado em 25/09/2014, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Réu ou vítima?

A educação em nosso país tem sido um problema grave ao longo de décadas. A cada ano que passa, a evasão nas escolas públicas aumenta cada vez mais. O aluno começa a estudar e depois, devido a problemas de falta de estrutura familiar e financeira, acaba saindo da escola, mesmo antes de acabar o primeiro semestre.

Tudo bem, esse fato já se tornou mais do que corriqueiro. Porém, já há um bom tempo, vem acontecendo, também, uma evasão escolar por parte dos professores, situação que a mídia pouco comenta.

Dados recentes indicam que são dadas 92 licenças por dia a professores da rede pública por estresse, crises nervosas e medo dos alunos. O que soma um total de 70% de licenças no Estado de São Paulo, já no primeiro semestre deste ano.

Quando uma criança pequena não quer ir à escola no primeiro dia de aula, isso é mais do que normal. Ou adolescentes que “matam” as aulas para ir ao cinema, tudo bem. Mas os professores estarem com medo de ir à escola, aí a coisa é grave!

“Eu não quero mais voltar para à sala de aula”, diz Nadia de Souza, 54 anos, professora de história. Ela foi ameaçada de morte por um aluno e diz ter sido ameaçada outras quatro vezes, atingida por urina e quase atingida por uma carteira jogada do terceiro andar da escola que lecionava. Hoje, Nadia está afastada, com depressão profunda e sem sair de casa há mais de um ano.

Bem, quem é o réu e quem é a vitima? Os governantes vivem falando em capacitar mais os professores, dão merendas, uniformes e, se a criança for à escola, até “Bolsa Família”.

Mas e no dia a dia, nas ruas, nas periferias, onde as drogas rolam soltas? As famílias desses alunos estão desestruturadas devido à falta de emprego, moradia, saúde, valores humanos, etc. Como é possível esperarmos que uma criança ou um jovem que vive este esta realidade se comporte como um ser civilizado dentro de uma sala de aula, se ele não é considerado um ser humano fora dela?

PS 1: E o “Dia D” vem chegando...
PS 2: Será que o Tiririca tem razão?

Publicado em 18/09/2014, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Se Dom Pedro soubesse...

A história que aprendemos desde crianças na escola é que no dia 7 de Setembro de 1822, próximo ao riacho do Ipiranga, Dom Pedro levantou a espada e gritou: “Independência ou Morte!”.

Pouco se comenta que o povo, na época, nem sequer acompanhou ou entendeu o significado da independência. A estrutura agrária continuou a mesma, a escravidão se manteve e a distribuição de renda continuou desigual. A elite agrária, que deu suporte a  D. Pedro I, foi a camada que mais se beneficiou.

Estamos falando da história do Brasil, mas todos estes fatos me remetem aos dias de hoje. O nosso país continua sendo extremamente desigual, em todos os sentidos: econômico, social e político. Quem não quer ser independente, ter o direito ao seu sustento, morar, estudar, trabalhar, ter acesso a hospitais, luz e rede de esgoto? Mas, como diz um bom e velho ditado: “A liberdade não se ganha, se conquista!”.

Aparentemente, podemos ir e vir, afinal, acabou a escravidão...(!?) Mas qual é o significado da  nossa independência? É possível dizer que vivemos como cidadãos livres, seja na área urbana ou rural, se ainda existem pessoas que chegam a ganhar 30 ou 50  reais por mês e usam seu dedo polegar como assinatura?

Ah, esqueci, temos a 'Bolsa Família', a 'Bolsa Escola'... Estamos no ano de 2014 e, lá fora, o Brasil é visto com um país emergente. Talvez nosso maior trunfo seja sermos eternamente o “País do futuro”...

Hoje, os beneficiados, e, diga-se de passagem, muito bem beneficiados, continuam sendo os mesmos! Só mudaram de nome. Mas como isso é possível? Temos uma nova classe emergente, cheia de cartões de crédito – e dívidas com juros praticamente impagáveis. Nossa população tem celulares, TVs de plasma, acesso ao Facebook, envia torpedos! É... Acho que estou exagerando... Olha só quantas coisas mudaram!

PS 1: Você sabia que D. Pedro pagou à Portugal 2 milhões de libras esterlinas pela nossa independência? E ainda com dinheiro emprestado!
PS 2: O reality show continua... Qual candidato vai pro “paredão”?



Publicado em 04/09/2014, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).