quinta-feira, 28 de julho de 2016

“A gente não quer só olimpíada...”

“A gente para de estudar para trabalhar, e não consegue mais voltar a estudar”, diz Mariane Dias da Silva, 19 anos, que largou a 8a série com 15 anos para ajudar a sustentar a casa.

Conforme estudos da Fundação Seade, existem mais de 2 milhões de jovens entre 18 e 24 anos que estão fora da escola, só no estado de São Paulo. Infelizmente, existe uma legião de adolescentes que são forçados a trabalhar apenas para sobreviver, ou seja: comer, dormir, acordar e trabalhar.

Porém, vivemos na era do computador, das viagens espaciais, da clonagem, robôs inteligentes... Afinal, que mundo é esse? Um mundo cada vez mais dividido entre seres braçais e seres intelectuais.

Daqui a alguns dias começam as Olimpíadas... Todos preocupados com a tocha olímpica, se ela está bem cuidada, viajando de um lado a outro do Brasil. Também construíram a Vila Olímpica, mais de 30 prédios, construídos para hospedar os atletas e, ainda por cima, mal construídos... Quem não assistiu a reportagem, mostrando goteiras, falta de água, luz, etc., etc... E o programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, será que também tem goteiras? Será que alguém está preocupado com isso?

E assim vamos caminhando: mensalão, lava-jato, impeachment, olimpíadas, etc., etc... Qual o benefício disso tudo para nós? Desemprego, falta de hospitais, gente na rua pedindo esmolas, traficantes, viciados, e uma infinidade de falta de respeito e direitos humanos para a grande maioria dos brasileiros! Mas a olimpíada continua firme e forte, com vazamentos ou sem vazamentos, sujeira no mar, dengue... Ufa! Acho que vou parar por aqui, é tanta falta de tudo que vai faltar espaço para eu escrever!

Mas não se iludam, o “show” não vai parar. A próxima atração já vem chegando: logo, logo, começa o horário eleitoral, debates políticos, santinhos nas ruas, passeatas, quebra-quebra e a eleição. Aí, já vamos estar em novembro e os candidatos eleitos só assumem o cargo em janeiro de 2017. Em dezembro, vem o Natal, décimo terceiro e os políticos entram em recesso.

E nós continuamos apenas assistindo o ano de 2016 passar, torcendo, como sempre, para que, no ano que vem, as coisas melhorem.

PS 1: Brasil, aqui as olimpíadas nunca acabam.
PS 2: Será que o inverno já acabou?

Publicado em 28/07/2016, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 21 de julho de 2016

“Todo mundo é igual, mas não percebem isso...”

Algumas crianças, com 10 ou 12 anos de idade, aproximadamente, sentadas em frente à uma mulher negra, são convidadas a ler para ela algumas frases: “Eu não gosto de gente da sua cor... Seu cabelo é horrível, parece uma esponja...” Elas se recusam e, ao serem questionadas por quê, elas retrucam: “Porque não acho certo. Eu não gosto de falar isso pras pessoas, porque eu me sinto mal...”.

A cena faz parte do vídeo “Ninguém nasce racista. Continue Criança” criado para a campanha ‘Criança Esperança 2016’ da TV Globo. Quem assistiu ao programa se emocionou com o experimento realizado para debater a questão do racismo no Brasil (e no mundo). O vídeo, muito comentado nas redes sociais, colocou diversas crianças para ler para uma mulher negra comentários racistas publicados que pessoas reais falaram para outras pessoas na internet.

Perguntadas sobre quem elas achavam que teria escrito tais frases, muitas responderam: “Uma pessoa que é muito racista, que acha que é melhor que todo mundo...”. “Preconceito é você não respeitar a pessoa do jeito que a pessoa é. Todo mundo é igual, mas não percebem isso...”, completou outra criança.

Quando assisti ao vídeo várias vezes, me emocionei a ponto de chorar e ao mesmo tempo ficar inconformada! Meu pensamento era um só... Por que o preconceito existe? Por que as pessoas são capazes de matar, escravizar, bater em outro ser humano porque a pele é de outra cor, ou por causa de uma opção sexual diferente? Como podemos admitir, ainda em pleno século 21, que existam guerras – o que já é um absurdo e, ainda pior, em nome de uma religião, um profeta ou um governante?

Para uma criança, a aversão ao preconceito e ao racismo parece tão simples, tão lógica, simplesmente porque ninguém nasce racista. Se depender das crianças mostradas neste vídeo, o mundo de amanhã será um lugar melhor para se viver...
E nós adultos, será que podemos começar a ser humanos ainda hoje?

PS1: Assista ao vídeo em: https://youtu.be/qmYucZKoxQA

PS2: Vale a pena ver de novo! Vale a pena olhar, ouvir e fazer diferente!

Publicado em 21/07/2016, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Segundos, minutos, horas...

O último minuto do mês de junho do ano passado durou 61 segundos. Um fenômeno que se explica especialmente pelo fato de a rotação irregular da Terra ser muito mais indisciplinada do que os relógios atômicos.

Em todos os países do mundo, na madrugada de 30 de junho para 1 de julho de 2015, de acordo com o Tempo Universal Coordenado (UTC), o minuto entre 23h59 e 00h00 durou um segundo a mais que o normal.

As pessoas, com certeza, não notaram a diferença, no entanto, “os grandes sistemas de navegação por satélite e os principais sistemas de sincronização de redes de computadores levaram em conta esta alteração, inclusive correndo o risco de ‘erros’”, explicou na época, Daniel Gambis, diretor do Serviço de Rotação da Terra, cujo serviço é baseado em um observatório de Paris. “A Terra gira de maneira lunática, enquanto os relógios atômicos são dramáticos”, afirmou o astrônomo.

No mundo científico e astronômico, este segundo a mais alterou muita coisa! A longo prazo, o nosso planeta tem uma tendência a se desacelerar pela atração gravitacional entre a Lua e o Sol, responsável pelas marés. Também depende de movimentos atmosféricos, variações dos gelos e forças como os terremotos.

 E no nosso mundo cotidiano, quantos segundos, minutos, horas, dia e anos fazem a diferença em nossas vidas? Quanto tempo realmente utilizamos para viver e conviver em paz e harmonia e quanto tempo gastamos fazendo guerras, intrigas, armando situações nas quais uns levam todas as vantagens e os outros ficam à míngua?

Realmente, um segundo pode fazer toda a diferença! Você, eu e todos nós podemos matar ou salvar milhões de semelhantes em apenas um segundo. Por que será que cientistas, astrônomos, físicos e outros doutores se preocupam tanto com este segundo a mais em nossos relógios e computadores e esquecem-se de lembrar como a vida é tênue e frágil?

PS 1: A vida não tem data de validade...
PS 2: Cada segundo faz a diferença!

Publicado em 14/07/2016, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

quinta-feira, 7 de julho de 2016

A cegueira...

Nestes tempos de “mensalões”, “lava jato”, boca livre” e tantas outras operações fraudulentas e criminosas por parte de nossos ditos governantes e seus “parceiros de trabalho”, lembrei-me de um filme ao qual assisti já há algum tempo, baseado em um livro de José Saramago, ‘Ensaio sobre a cegueira’.

A história começa quando ocorre uma epidemia de cegueira em uma cidade – de forma inexplicável, não se sabe quanto tempo irá durar ou de onde vêm –, afetando a visão das pessoas, que começam a enxergar apenas manchas brancas – por isso, a doença começa a ser chamada de “cegueira branca”.

O primeiro infectado acaba perdendo a visão enquanto dirige no trânsito caótico da cidade. Logo, a epidemia vai se espalhando por todo um país, começando pelas pessoas que tiveram contato com este primeiro personagem. Conforme todos vão sendo contagiados, o governo decreta que devem ser afastados do convívio da sociedade e colocados sobre quarentena numa espécie de hospital, para que não afetem o restante da população.

O foco da trama não está em mostrar a causa da doença ou sua cura, mas, sim, o desmoronar completo de uma sociedade quando perde tudo aquilo que considera civilizado. No filme, as pessoas doentes começam a lutar por suas necessidades mais básicas, expondo seus instintos primitivos. Após algum tempo com a falta de higiene, atendimento médico e comida, a história vai ficando mais tensa, mostrando a crueldade que o ser humano consegue impor aos demais em situações críticas. Em algum momento do filme as pessoas voltam a enxergar e começam a ver o mundo de uma maneira diferente, entendendo que estamos todos no mesmo barco!

Tenho observado as pessoas e a mim mesma, e é como se estivéssemos cegos e adormecidos diante de tantos fatos cruéis, surreais e assustadoramente inescrupulosos. Será que vamos voltar a enxergar como no final do filme?

PS 1: Com certeza, os deficientes visuais enxergam muito mais que uma pessoa que enxerga, mas não vê ou não quer ver!
PS 2: Como tudo isso vai acabar? Não sei! Dizem que tudo tem um começo, um meio e um fim... E um novo começo!

Publicado em 07/07/2016, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).