sábado, 20 de novembro de 2021

Todos nós temos uma cor...

Por que será que sempre que falamos “pessoa de cor” estamos nos referindo aos negros? Todos nós temos uma cor: branca, amarela, vermelha, negra... Todos nós temos uma etnia.

O Dia Nacional da Consciência Negra é comemorado no dia 20 de novembro em homenagem a Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.

Desde o descobrimento do Brasil até hoje, existe uma enorme exclusão social – e essa desigualdade também tem cor. Quantas vezes você já ouviu, ou até falou: “Sabe aquele cara de cor? Até que ele é legal”. Aí vem a pergunta: de que cor?

Por que tratamos os negros e os índios como estrangeiros que vieram roubar o trabalho dos brancos? Afinal, foram os próprios colonizadores brancos que trouxeram os negros da África para trabalhar como escravos – além dos índios, que já estavam aqui!

“Parece que os negros não têm passado, presente ou futuro no Brasil. Parece que sua história começou com a escravidão, sendo o antes e o depois dela propositalmente desconhecidos”. Quem afirma é o antropólogo Kabengele Munanga, professor do Centro de Estudos Africanos da Faculdade de Filosofia, Letras, Ciências e Humanidades da USP.

Escritores, líderes, engenheiros e políticos negros ainda são pouco conhecidos de alunos e até dos professores! Vou citar apenas alguns deles:

- Milton Santos nasceu em 3 de maio de 1926, em Brotas de Macaúbas, na Bahia. Filho de dois professores primários, ele tornou-se um dos geógrafos negros mais conhecidos no mundo.

- Lima Barreto (Afonso Henriques de Lima Barreto) nasceu em 13 de maio de 1881, no Rio de Janeiro, neto de escravos e filho de professores. Em 1897, menos de dez anos após o fim da escravidão, ele foi aceito na importante escola de Engenharia do Rio de Janeiro – o único negro da sala.

Bem, são tantos outros negros e negras importantes que eu poderia citar que não caberiam neste artigo...

PS. 1: Um país que não conhece a sua história não tem como ir adiante!

PS. 2: Sem passado, não existe futuro... não existe identidade!

PS. 3: “O dia em que pararmos de nos preocupar com consciência negra, amarela ou branca, e nos preocuparmos com consciência humana, o racismo desaparece!” (Morgan Freeman)

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Vó Pequena e o Zeppelin


Conhecida como Vó Pequena, Dona Pulcina tem 103 anos e mora em uma casa modesta em Santo Antônio da Patrulha, no Rio Grande do Sul.

Todos os dias, ela acorda cedo, faz a própria comida, gosta de caminhar e observar a natureza. “O que marcou a minha vida foi o serviço da roça, que eu nunca me esqueci até hoje. Coisa boa é trabalhar na roça”, enfatiza.

Ela tem memória de menina e se lembra até de quando o Zeppelin passou pela cidade. “Era uma coisa redonda, parecia que não tinha asa. Fiquei fisgada ali, olhando, olhando... até que ele cruzou e foi para Porto Alegre. Lembro de tudo. Faz pouco tempo... foi há uns 75 anos”, diz.

Vó Pequena mora sozinha, mas sempre com a companhia dos filhos, que ficam admirados, com tanta independência. Questionada sobre quanto tempo Vó Pequena planeja morar sozinha, ela diz, segura: “Eu vou indo até Deus querer me cuidar. Deus está me cuidando e está junto comigo”.

Para, o doutor em biologia do envelhecimento, Emílio Jeckel, genética e estilo de vida andam juntos. “Nós temos uma herança genética, sim, mas esses genes só entram em ação, ou não, dependendo dos estímulos ambientais que a gente tem. As pessoas vão viver mais quando elas conseguirem olhar para além do espelho. A pessoa é muito mais do que aquilo que ela aparenta ou daquilo que ela é fisiologicamente. Às vezes, a parte externa pode estar meio careca, mas lá dentro está muito bem”, explica.

Mais do que herança genética, somos nós que decidimos como vamos envelhecer. E não se trata de estar protegido de tudo, de viver em uma redoma, mas de fazer o melhor com o que o cotidiano oferece.

“Todo centenário tem uma coisa comum: ele sabe enfrentar as adversidades e sair inteiro delas. Não é sair ileso, mas é sair inteiro, é voltar para o prumo”, declara o médico gerontólogo Fernando Bignardi, da Unifesp.

PS 1: Será que vamos conseguir sair inteiros deste descaso que se repete há mais de 521 anos no Brasil?
PS 2: Vó Pequena deve saber a resposta...