Do primeiro teste da bomba atômica no Atol de Bikini, em 1946, no Oceano Pacífico, até a confecção da “peça mais desejada da moda brasileira”, o biquíni guarda uma história de vanguardismo, sexo e moralismo ligada à relação da mulher com o próprio corpo.
“A relação dos índios com o corpo revela nossa forma de usar o biquíni. Mulheres de uma tribo no Xingu, por exemplo, cobrem a intimidade com o uluri (cinto que só envolve uma pedaço da cintura). As brasileiras, por menor que seja o biquíni usado, também se consideram vestidas. Carregamos heranças indígenas com o pudor português”, explica o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro.
São tantas estórias e mitos sobre estas duas peças que cobrem o corpo da mulher ocidental, e que no Brasil, mais do que em qualquer outro país do mundo, fazem parte do imaginário masculino, além de tornarem a mulher brasileira em um constante, “objeto do desejo”, que a jornalista Lilian Pacce passou 13 anos debruçada em entrevistas, fotos e uma vasta checagem cronológica dos fatos que envolvem este traje de banho, curiosamente criado por um francês, Louis Réard.
Em suas pesquisas com personagens-chave para a disseminação do traje, descobriu que a ex-modelo alemã Miriam Etz (1914-2010) foi a primeira mulher a aparecer no Rio, em 1946, com um biquíni “duas peças” – versão que ainda encobria o umbigo.
Bem, de certa maneira, parece fútil nos preocuparmos tanto com a história do biquíni, mas este traje de banho feminino simboliza muito de nossa cultura machista, a qual inverteu e banalizou toda a cultura indígena em nosso país, transformando a pureza do índio e seus costumes em uma moralidade cheia de aberrações e falsos preceitos de pureza e castidade.
“Lamento o português ter vestido o índio, e não o índio ter despido o português...” (Oswald de Andrade, escritor modernista)
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