quinta-feira, 17 de julho de 2014

Nem sempre o óbvio é tão óbvio assim...

Michael Sandel, filósofo e professor da Universidade de Harvard, comentou recentemente em um artigo que estamos caminhando para o que ele chama de uma sociedade mercadista, onde empresas pagam mendigos para guardar lugar na fila, pais oferecem dinheiro para que seus filhos tenham boas notas na escola, paga-se uma fortuna para um cambista por um ingresso da final da Copa, votos e órgãos são vendidos, etc, etc...

Tudo se transforma em mercadoria! Enfim, será que perdemos completamente a noção do valor real do ser humano e do significado da vida?

Aproveito esse momento para refletir sobre a Copa, diga-se de passagem, tão confusa, estranha e triste para todos nós que, infelizmente, tivemos que assistir nossa seleção jogar sem alma, sem coração, apenas levando male, male a bola de lá pra cá e de cá pra lá!

Por que isso? Talvez o óbvio nem sempre seja tão óbvio assim... Mas sempre nos resta uma luz no fim do túnel. Lembrei de um ser humano que acreditava no valor do que fazia, pura e simplesmente: Mané Garrincha, “o anjo das pernas tortas”!

“Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho”, escreveu Carlos Drummond de Andrade.

Não só no futebol, mas em todas as situações da vida, quando as coisas valem mais do que nós mesmos, corremos o risco de nos tornarmos apenas uma mercadoria, um objeto facilmente descartável...

PS: “Enquanto os gringos olhavam minha perna torta, eu ia passando por eles e fazendo meus gols” (Mané Garricha, 1933-1983).

Publicado em 17/07/2014, na coluna ´Formador de Opinião´ do Jornal ´Bom Dia´, da Rede Bom Dia (às quintas-feiras, a coluna é escrita por Tony Bernstein).

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